Foi aos cinco anos que me diagnosticaram miopia. Desde então, usar óculos tornou-se tão trivial como respirar. Foi através deles que aprendi o abecedário, que li os meus primeiros livros, que vi o sorriso dos meus amigos e que conheci o mundo tal e qual como ele o é. De facto é incrível pensar que tudo o que eu vi foi filtrado por este pequeno e tão simples objecto. Por isso, os meus óculos deixaram de ser acessório e começaram a fazer parte de mim. Assim, para além de cabeça, tronco e membros, tenho também este pequeno objecto de metal que outrora foi de massa e de outras dimensões.
Os meus primeiros óculos foram o que se chama agora de "óculos de aviador". Lembro-me que a armação era feita de cobre e que as lentes eram maiores do que a minha cara. No início era horrível colocar todos os dias aquele pedaço de metal que me deixava marcas no nariz mas, progressivamente, comecei-me a acostumar à ideia. A certa altura, a armação começou a ganhar aquilo que chamamos de verdete, devido à oxidação do cobre, e não sei se por bem ou se por mal, tive que mudar de óculos.
Os meus segundos óculos tinham armação em massa e eram pretos. A sua escolha foi muito influenciada pelo meu pai que, na altura, dizia que a moda era usar óculos de massa pretos (porque a senhora do telejornal usava uns).As lentes, apesar de terem dimensões menores, possuíam uma graduação maior pelo que eu notava uma maior dificuldade em ver sem óculos. Como a dependência era maior, habituei-me de tal forma que já nem reparava neles (uma vez estava a tomar banho e só me apercebi que estava com óculos quando comecei a ver a água a deslizar pelas lentes). Apesar de os ter trocado muitas vezes devido a lentes quebradas ou armações partidas, segui durante muito tempo o mesmo "modelo da moda" que me atribuiu muitas vezes a alcunha de "o caixa-d'óculos".
Porém, os tempos foram mudando e apercebi-me que o que realmente me ficava bem eram óculos de armação fina e discreta. E aqui estou eu, hoje, com óculos mais discretos (julgo eu) pronto para entrar outra vez no chuveiro com eles.
Usei óculos durante mais de metade da minha existência, começando a usá-los, como já referi, desde muito novo. Hoje creio que isso tenha afectado muito a minha personalidade. Estereótipo ou coincidência, regra geral, o desporto dos rapazes é o futebol. Esta visão rígida, imposta desde muito cedo, assombra o passado de pessoas como eu, que não têm jeitinho nenhum com os pés. Lembro-me que era habitual, no recreio da primária, os rapazes jogarem à bola e as raparigas brincarem ás casinhas. Pondo deste modo as coisas, era óbvio que o meu trabalho, como cidadão do sexo masculino integrante naquela escola primária, seria jogar futebol. Porém, no processo de selecção e formação de equipas ficava sempre para último e, durante o jogo, raramente me passavam a bola, ou raramente eu a via. Isto porque, para jogar futebol, ou tirava os óculos (e não via a bola) ou corria o risco de os partir (o que equivaleria a umas valentes marcas da mão do meu pai nas minhas nádegas). Ora, como é que eu, sendo um "caixa-d'óculos" precoce, iria conseguir fazer evoluir as minhas capacidades futebolísticas? Na altura considerava isto como uma mera incompatibilidade ditada pela mãe natureza. Foi por isso que acabava a brincar ás casinhas com as raparigas e a dizer que o futebol era um desporto muito violento. Conclusão: nunca tive jeitinho nenhum para a bola.
Dez anos depois, decidi criar este blog para homenagear todos os meus óculos que, apesar de terem excluido do mundo do futebol, me ajudaram a ver as coisas de outra forma.
Um bem haja a todos eles, desde os partidos até aos molhados pelo chuveiro!
Os meus primeiros óculos foram o que se chama agora de "óculos de aviador". Lembro-me que a armação era feita de cobre e que as lentes eram maiores do que a minha cara. No início era horrível colocar todos os dias aquele pedaço de metal que me deixava marcas no nariz mas, progressivamente, comecei-me a acostumar à ideia. A certa altura, a armação começou a ganhar aquilo que chamamos de verdete, devido à oxidação do cobre, e não sei se por bem ou se por mal, tive que mudar de óculos.
Os meus segundos óculos tinham armação em massa e eram pretos. A sua escolha foi muito influenciada pelo meu pai que, na altura, dizia que a moda era usar óculos de massa pretos (porque a senhora do telejornal usava uns).As lentes, apesar de terem dimensões menores, possuíam uma graduação maior pelo que eu notava uma maior dificuldade em ver sem óculos. Como a dependência era maior, habituei-me de tal forma que já nem reparava neles (uma vez estava a tomar banho e só me apercebi que estava com óculos quando comecei a ver a água a deslizar pelas lentes). Apesar de os ter trocado muitas vezes devido a lentes quebradas ou armações partidas, segui durante muito tempo o mesmo "modelo da moda" que me atribuiu muitas vezes a alcunha de "o caixa-d'óculos".
Porém, os tempos foram mudando e apercebi-me que o que realmente me ficava bem eram óculos de armação fina e discreta. E aqui estou eu, hoje, com óculos mais discretos (julgo eu) pronto para entrar outra vez no chuveiro com eles.
Usei óculos durante mais de metade da minha existência, começando a usá-los, como já referi, desde muito novo. Hoje creio que isso tenha afectado muito a minha personalidade. Estereótipo ou coincidência, regra geral, o desporto dos rapazes é o futebol. Esta visão rígida, imposta desde muito cedo, assombra o passado de pessoas como eu, que não têm jeitinho nenhum com os pés. Lembro-me que era habitual, no recreio da primária, os rapazes jogarem à bola e as raparigas brincarem ás casinhas. Pondo deste modo as coisas, era óbvio que o meu trabalho, como cidadão do sexo masculino integrante naquela escola primária, seria jogar futebol. Porém, no processo de selecção e formação de equipas ficava sempre para último e, durante o jogo, raramente me passavam a bola, ou raramente eu a via. Isto porque, para jogar futebol, ou tirava os óculos (e não via a bola) ou corria o risco de os partir (o que equivaleria a umas valentes marcas da mão do meu pai nas minhas nádegas). Ora, como é que eu, sendo um "caixa-d'óculos" precoce, iria conseguir fazer evoluir as minhas capacidades futebolísticas? Na altura considerava isto como uma mera incompatibilidade ditada pela mãe natureza. Foi por isso que acabava a brincar ás casinhas com as raparigas e a dizer que o futebol era um desporto muito violento. Conclusão: nunca tive jeitinho nenhum para a bola.
Dez anos depois, decidi criar este blog para homenagear todos os meus óculos que, apesar de terem excluido do mundo do futebol, me ajudaram a ver as coisas de outra forma.
Um bem haja a todos eles, desde os partidos até aos molhados pelo chuveiro!
2 comentários:
Fogo, grande biografia que aqui tens sobre os teus óculos! Eu quando era mais nova também queria usar óculos - porque haviam uns do Harry Potter .P - mas o oftalmologista pediu-me pa não me armar em hipocondríaca.
Obrigada pelo comentário e fico muito muito contente em saber que já há alguém que conseguiu reparar na existência do livro!
Bem, também ainda só li esta tua apresentação mas prometo acompanhar o teu blog, que parece excelente
Beijo
Este texto quase que podia ser escrito por mim.
Óculos desde a 2ª classe... futebol bem longe de mim. Só não brincava as casinhas... mas o certo é que sempre me dei bem com as raparigas.
Hoje em dia, e já à quatro anos para cá (tenho 20), virei-me para as lentes de contacto. Um alívio bem merecido para aqueles que como nós durante anos lutaram para manter os óculos no sítio quando a adolescência nos transforma o nariz numa fonte de oleosidades que o verão aquece.
Agora já posso ir para o banho, para a piscina, para o mar e ver bem (claro que uns
oculos de natação dão jeito na piscina... e não abro os olhos de baixo de água, mas pelo menos já consigo ver se vem uma onda atrás de mim).
Bom texto!
;)
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